Inovação
pedagógica: desconstruindo conceitos para uma prática reflexiva
Ana Maura T. dos
Anjos
Pensar sobre nossa compreensão acerca de um determinado
conceito implica um exercício reflexivo que muda nossas estruturas mentais. A
partir de tais mudanças podemos transformar padrões comportamentais: mudar a si
mesmo e o contexto.
Neste caminho, no presente texto desenrolamos um carretel de
reflexões acerca da temática inovação pedagógica, tendo como principal objetivo
compreender o conceito de inovação pedagógica com base em algumas referências
sobre o assunto: House (1988); Garcia e Farias (2004); Farias (2007); e Cunha
(2009).
Assim tomamos como ponto de partida em nossas discussões,
o mote destacando a fala da paquistanesa Malala Yousafzai na cerimônia de
entrega do prêmio Nobel da paz de 2014: “uma criança, um professor, uma caneta
e um livro podem mudar o mundo”. Em uma breve analogia à fala da paquistanesa,
“uma criança e um professor” podem ser agentes de emancipação na educação, “uma
caneta e um livro” são ferramentas inovações para a práxis pedagógica.
Falar sobre inovação pedagógica no contexto da sociedade
da revolução tecnológica, onde a transitoriedade do conhecimento e da
informação são marcadas de uma sociedade interconectada e de relações on-line como alerta Zigmund Bauman, nos
remete ao pensamento de Farias (2006) ao destacar que as mudanças ocorridas na
sociedade tem incidência em diversas áreas, entre elas, a educação.
Atualmente, temos acesso a informação advinda de diversas
áreas em qualquer lugar. A sociedade atual ‘interconectada’ evidenciou a
pluralidade cultural, “provocando um deslocamento no núcleo de valores a serem
socializados via educação” (FARIAS, 2006, p. 33) e acrescenta que “esse cenário
exige que as pessoas mudem, inovem” (FARIAS, 2005, P.65), E EM EDUCAÇÃO não
seria diferente com o professor. Mas o que é inovar?
De acordo com dicionário Aurélio on-line inovação é descrito como “ato ou efeito de inovar”, e inovar
é “introduzir novidades. Renovar.
Inventar. Criar”, o que nos leva a pensar que a inovação pedagógica está
atrelada à mudança, mas a mudança com implicação qualitativa na melhoria da
práxis.
Em educação a inovação pode se apresentar em dois tipos:
“as que incidem sobre a escola como um sistema e aquelas que incidem sobre o
ensino” (FARIAS p. 33). Assim ela tem conforme a autora, um caráter
multidimensional e pode ser definida como “estratégias que expressam dinâmicas
explícitas com intenção e alterar ideias, concepções, conteúdos e práticas” (p.
57) com intencionalidade de melhoria.
Tal caminho de discussão nos leva a pensar o lugar do
professor neste contexto e por sua vez as inovações que tem chegado a escola
sobre a égide do discurso salvacionista de algumas problemáticas emergentes na
educação básica como, por exemplo, o analfabetismo escolar. Entre tais
inovações destacamos o atualmente conhecido Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa, programa do Governo Federal, que para nós é uma iniciativa
importante no cenário da alfabetização brasileira, mas que homogeneiza uma
proposta para uma demanda que é inegavelmente plural.
Portanto, é preciso considerar o contexto e destacar o
papel da reflexividade docente para que uma inovação provoque as reais mudanças
necessárias.
Nesse ponto de nossa caminhada vemos mais uma vereda para
reflexão: o que define uma prática pedagógica como inovadora. Arriscamos
inferir tendo como referência House (1988); Garcia e Farias (2004); Farias
(2007); e Cunha (2009), que seja sua gênese e nível de empoderamento pela comunidade
na qual será desenvolvida, dito de outra forma, entendemos que a inovação para
a mudança é germinada no âmago das problemáticas, conforme assevera Cunha
(2009) o próprio movimento dos professores em direção às possibilidades inovadoras
tem origem em situações problema, parte de desconfortos vividos pelos docentes
na relação de ensino e aprendizagem.
Concordamos com Cunha (2009) ao afirmar que “os impasses
da prática pedagógica reflexiva e de problematização da ação docente já é em si
uma inovação” (p.228). As palavras da referida autora nos coloca em conflito
cognitivo ao identificarmos na realidade da escola, a partir de nossa
experiência, e dos discursos de nossos pares, lamentações que incidem em
questões relacionadas a profissionalidade docente, as condições de trabalho,
falta de tempo para reflexões coletivas, ou despertar para uma cultura de
colaboração e aprendizagem na escola, portanto, condições objetivas que
dificultam a mudança qualitativa em uma dimensão coletiva. Outro fator que
dificulta uma prática inovadora é a descontinuidade das ações, a cada período
governamental, conforme alertam Walter e Farias (2009).
Nesse sentido, desenvolver um ação docente inovadora
alinhada à uma perspectiva pedagógica crítica e transformadora é um desafio que
está posto, visto que as inovações que batem à porta das escolas por vezes
foram ‘enviadas’ sem solicitação, mesmo que tenham sido necessidades sentidas,
e estão imbricadas de intencionalidades políticas à serviço de interesses
implícitos da ordem econômica vigente.
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